Julgamento antitruste contra o Google avança: Departamento de Justiça sugere separação do Chrome
Processo histórico quer limitar acordos de IA e acabar com exclusividades de busca; Google diz que medidas prejudicam inovação e segurança dos usuários

O embate judicial entre o Google e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos atinge um novo patamar com propostas radicais para redefinir o mercado digital.
A mais impactante delas? A possível separação do navegador Chrome do restante das operações da gigante de buscas.
O governo americano busca desmantelar o que considera um monopólio digital que asfixia a concorrência em setores cruciais como buscas, navegadores, sistemas operacionais móveis e, agora, inteligência artificial. As informações são do Search Engine Journal.
O Que o governo americano quer mudar no domínio do Google?
Segundo o Search Engine Journal, o Departamento de Justiça argumenta que o domínio do Google foi estabelecido e mantido de maneira ilícita, através de acordos de exclusividade com grandes fabricantes como Apple e Samsung.
A fase atual do julgamento, que teve seu início nesta semana, visa implementar medidas corretivas que restrinjam esse poder de mercado, com um olhar atento para o futuro da inteligência artificial.
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Durante a audiência mais recente, a procuradora-geral adjunta Gail Slater traçou um paralelo entre o caso atual e os confrontos históricos com gigantes como a Standard Oil e a AT&T.
A lista de mudanças propostas pelo governo é extensa e ambiciosa:
- A venda do navegador Google Chrome.
- O fim dos contratos de busca exclusiva com empresas como Apple e Samsung.
- O compartilhamento dos resultados de busca do Google com empresas concorrentes.
- A imposição de restrições aos acordos de inteligência artificial, como a integração do Gemini em dispositivos Android.
- E, em um cenário mais extremo, a separação do sistema operacional Android, caso as medidas anteriores não produzam o efeito desejado.
O advogado do Departamento de Justiça, David Dahlquist, foi enfático ao declarar:
“Agora é a hora de dizer ao Google e a todos os outros monopolistas que há consequências quando se violam as leis antitruste.”
Google reage: medidas seriam um "retrocesso" para inovação e usuários
A reação do Google às acusações e propostas do governo americano foi imediata e contundente.
O advogado da empresa, John Schmidtlein, classificou as sugestões como uma “lista de desejos de concorrentes” que buscariam se beneficiar das “inovações extraordinárias do Google”.
Em uma publicação de blog anterior ao início do julgamento, a vice-presidente do Google, Lee-Anne Mulholland, alertou que a implementação dessas mudanças poderia prejudicar significativamente o avanço da inteligência artificial, comprometer a segurança dos usuários e até mesmo elevar o custo dos dispositivos.
A executiva também defendeu que obrigar o Google a compartilhar seus dados de busca representaria um risco à privacidade dos usuários e poderia impactar negativamente outras empresas do setor, como a Mozilla.
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A Inteligência Artificial no Epicentro da Disputa Legal
Embora o foco principal do caso seja o mercado de buscas, a inteligência artificial se tornou um elemento central do debate.
O cerne da disputa reside em um ciclo que o governo busca desmantelar: o Google supostamente utiliza seu domínio no mercado de buscas para impulsionar o desenvolvimento de seus produtos de IA, que, por sua vez, fortalecem ainda mais seu domínio ao atrair os usuários de volta para o buscador.
O julgamento promete trazer à tona discussões acaloradas nas próximas semanas, com depoimentos aguardados de representantes de grandes players do mercado de tecnologia, como Mozilla, Apple, Verizon e até mesmo a OpenAI – a empresa por trás do ChatGPT, hoje um dos principais concorrentes em experiências de busca impulsionadas por IA.
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Uma voz alternativa: a proposta da "escolha" da perplexity
Em meio ao debate acirrado, surge uma voz alternativa: a da startup Perplexity, que desenvolve um motor de busca baseado em inteligência artificial.
O CEO da empresa, Aravind Srinivas, expressou sua preocupação de que forçar a venda do Chrome poderia, paradoxalmente, prejudicar a qualidade da experiência de navegação para os usuários.
Em vez de medidas tão drásticas, a Perplexity defende a implementação da liberdade de escolha para os consumidores.
Perplexity has been asked to testify in the Google DOJ case. Our core points:
— Aravind Srinivas (@AravSrinivas) April 21, 2025
1. Google should not be broken up. Chrome should remain within and continue to be run by Google. Google deserves a lot of credit for open-sourcing Chromium, which powers Microsoft's Edge and will also…
Para a startup, o problema central reside na maneira como o sistema operacional Android impõe o uso de aplicativos e serviços do Google, além de penalizar as operadoras e fabricantes que buscam oferecer alternativas aos usuários.
Em uma publicação intitulada “A escolha é a solução”, a Perplexity argumenta que o Google mantém sua posição dominante no mercado “pagando para impor uma experiência abaixo da média aos consumidores, e não por criar produtos melhores”.
O que esperar do desfecho deste julgamento histórico?
O julgamento deve se estender por várias semanas e, independentemente do seu resultado final, certamente marcará um novo e importante capítulo na complexa relação entre os governos e as grandes empresas de tecnologia.
Este é o maior caso antitruste da era digital desde o processo movido contra a Microsoft no final da década de 1990.
Um detalhe relevante é que a ação foi iniciada ainda durante o governo Trump e prosseguiu sob a administração Biden, demonstrando que a regulação das gigantes da tecnologia é um tema que transcende as divisões políticas nos Estados Unidos.
É importante notar que o escrutínio regulatório sobre as práticas do Google não se limita aos Estados Unidos.
Como reportamos recentemente aqui no SEO Lab, o Google também enfrenta um processo bilionário no Reino Unido, acusado de suposto abuso de poder no mercado de buscas.
Esses eventos demonstram uma tendência global de maior atenção e regulação sobre as atividades das grandes empresas de tecnologia.