Google testa resumos de IA no Discover e ameaça o jornalismo digital
Mudança no principal feed de notícias do Google substitui manchetes por resumos automáticos e acende alerta no setor jornalístico, cada vez mais dependente do Discover para atrair tráfego

O Google começou a implementar resumos gerados por inteligência artificial dentro do Discover, seu feed de notícias nativo nos aplicativos de busca para Android e iOS.
A mudança, revelada pelo TechCrunch, representa mais um desafio para o jornalismo digital, que já enfrenta queda no tráfego desde a chegada do Modo IA e das Visões Gerais de IA (AI Overviews) na busca tradicional.
Agora, em vez da tradicional combinação de título, imagem e chamada de um portal de notícias, os usuários passaram a visualizar pequenos resumos gerados por IA.
No topo da notícia, aparecem apenas logotipos das fontes consultadas pela inteligência artificial, seguidos pelo aviso padrão: “gerado por IA e pode conter erros”.
Não se trata de um teste: o Google confirmou que o recurso já está em fase de liberação nos Estados Unidos, tanto para iOS quanto para Android.
Inicialmente, a IA do Discover vai atuar em temas considerados de menor complexidade, como esportes, entretenimento e estilo de vida.
A justificativa oficial é a de sempre: facilitar a decisão do usuário sobre quais matérias deseja acessar. Mas, para editores de notícias, a preocupação é clara — o leitor pode consumir o resumo e simplesmente não clicar.
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O que está mudando no Google Discover
Além dos resumos, o Google vem testando diferentes formatos de apresentação para as notícias exibidas no Discover.
Entre eles, agrupamentos por tópicos e marcadores abaixo do título, numa tentativa de transformar o feed em uma fonte de informação mais autossuficiente.
O problema? Ao facilitar o consumo dentro do próprio app, o Google reduz o número de acessos enviados aos sites originais — uma mudança crítica, justamente no momento em que o Discover é um dos últimos grandes canais de tráfego orgânico para veículos jornalísticos.
Esse cenário amplia o efeito que já discutimos no SEO Lab, quando mostramos como o Modo IA do Google ameaça o tráfego e desafia a relevância dos sites de jornalismo. Agora, o feed de notícias segue pelo mesmo caminho.
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Por que isso preocupa o setor jornalístico
A implementação dos resumos automáticos acontece no pior momento possível para os sites de notícias.
Dados da Similarweb mostram que o tráfego mundial vindo da busca caiu 15% em junho, comparado ao mesmo período do ano anterior.
Outro dado preocupante: desde o lançamento do AI Overviews, o número de buscas sem clique cresceu de 56% em maio de 2024 para quase 69% em maio de 2025.
Ou seja, o usuário encontra respostas diretamente no Google — sem acessar nenhum site.
Apesar desses números, o Google mantém a postura oficial de que a busca segue saudável. Como mostramos no SEO Lab, a empresa nega queda no uso da busca com o avanço da IA, destacando apenas estatísticas gerais, enquanto o tráfego real para os sites continua despencando.
Indexação virou moeda de troca
Outro ponto sensível é o uso do conteúdo dos próprios sites para alimentar as respostas e resumos automáticos. Mesmo sem controle total sobre como seu material será sintetizado, editores continuam obrigados a indexar suas páginas para não desaparecer do Google.
Essa dependência ficou ainda mais evidente com a recente atualização das diretrizes da empresa.
Como explicamos no SEO Lab, o Google passou a exigir a indexação para o conteúdo aparecer no Modo IA, o que na prática obriga sites a autorizarem o uso do seu conteúdo pela inteligência artificial da plataforma.
Como o setor tenta reagir
Enquanto o Google avança, veículos tradicionais como Wall Street Journal, Bloomberg e USA Today começam a investir em ferramentas próprias de IA para resumos de notícias e assistentes de leitura. Startups, como o Particle, seguem a mesma linha.
Já o Google aposta no Offerwall como tentativa de amenizar o descontentamento. A ferramenta permite aos editores testarem modelos de micropagamento, paywall flexível e alternativas de monetização dentro do próprio ecossistema do Google. Mas, como aponta a The Economist, essas soluções chegam tarde — o tráfego já caiu.
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Conclusão: o Discover ainda é um aliado do jornalismo?
Embora o uso de IA nos sites não afete diretamente o posicionamento no Google — como mostramos em outra análise do SEO Lab, onde desmentimos os boatos sobre penalização no ranking por conteúdo automatizado — a IA do próprio Google pode acabar drenando o tráfego antes mesmo que o clique aconteça.
Aos veículos de notícias, resta a difícil tarefa de repensar suas estratégias. O Discover, que até aqui funcionava como uma fonte confiável de audiência, começa a se tornar mais um território controlado pela inteligência artificial — e menos um espaço de visibilidade para o jornalismo digital.