OpenAI recua de plano bilionário e volta a prometer foco no bem público
Após críticas de ex-funcionários, autoridades e Elon Musk, a empresa de Sam Altman desiste de se tornar uma corporação puramente lucrativa e aposta em um modelo híbrido

A OpenAI está voltando atrás em um de seus movimentos mais polêmicos desde o lançamento do ChatGPT: virar uma empresa com fins lucrativos convencionais.
A decisão foi revelada pelo próprio CEO, Sam Altman, e coloca fim — ao menos por enquanto — à ideia de uma reestruturação que vinha enfrentando resistência pública e institucional.
Segundo apuração da New York Post, o recuo veio após pressões de diferentes lados: ex-funcionários da OpenAI, acadêmicos de peso como Geoffrey Hinton (apelidado de "padrinho da IA") e procuradores dos estados da Califórnia e de Delaware.
Até Elon Musk, desafeto declarado de Altman, entrou na briga, processando a empresa por supostamente trair sua missão original de desenvolver inteligência artificial para o bem da humanidade.
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Reestruturação com controle sem fins lucrativos
A nova proposta ainda prevê mudanças, mas com uma abordagem híbrida.
A OpenAI seguirá operando com uma estrutura de LLC com fins lucrativos, mas sob a supervisão direta do conselho da organização sem fins lucrativos que deu origem à empresa.
Na prática, isso significa que a OpenAI poderá continuar arrecadando recursos e oferecendo participação acionária a investidores e funcionários, incluindo Altman, que até aqui não recebia remuneração, mas sem abrir mão do controle institucional do braço sem fins lucrativos, que seguirá tendo palavra final sobre decisões estratégicas.
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A ideia, segundo Altman, é manter a “missão original no centro das decisões”, ao mesmo tempo em que a empresa busca novos aportes para continuar avançando em direção à chamada inteligência artificial geral, uma IA com capacidades comparáveis ou superiores às humanas.
As reações ao recuo
A procuradora-geral de Delaware, Kathy Jennings, foi uma das vozes mais críticas à proposta anterior, que, segundo ela, colocava em risco o propósito de caridade da organização.
“Agora que a empresa tem um novo plano, pretendo revisá-lo para garantir que esteja em conformidade com a lei e que o controle sem fins lucrativos seja mantido”, declarou.
Já o gabinete do procurador-geral da Califórnia preferiu não comentar. Mas os sinais de bastidores indicam que as conversas com as autoridades foram determinantes para a guinada.
O pano de fundo: crise interna e oferta bilionária recusada
Esse novo capítulo da OpenAI acontece meses depois da crise institucional que levou à saída temporária de Altman no fim de 2023.
O CEO voltou ao cargo após uma reviravolta que incluiu a demissão da maior parte do antigo conselho, justamente o grupo que havia criado salvaguardas contra uma virada lucrativa total da empresa.
No meio disso tudo, Elon Musk fez uma oferta não solicitada de US$ 97,4 bilhões pela OpenAI, que foi prontamente recusada.
Além disso, uma carta aberta publicada no mês passado — assinada por ex-funcionários, acadêmicos e organizações de vigilância — alertava para os riscos de se eliminar salvaguardas de governança ao transformar a OpenAI em uma empresa comum do Vale do Silício.
A nova estrutura, segundo Altman, ainda será discutida com os estados envolvidos, a Microsoft (principal investidora) e os recém-nomeados comissários do conselho.