O tráfego morreu? Só se você esquecer que ele paga as contas

Em tempos de buscas sem clique, será que o tráfego do site ainda é um bom KPI? Para o marketing de performance, talvez não. Mas para quem vive de audiência, ele segue valendo muito

O tráfego morreu? Só se você esquecer que ele paga as contas
Com a queda dos cliques nos mecanismos de busca, entender o papel real do tráfego virou uma questão estratégica e de sobrevivência para alguns modelos de negócio. Créditos: Unsplash.

O valor do tráfego como indicador de sucesso voltou ao centro das discussões após um artigo provocador de Rand Fishkin no blog da SparkToro.

Nele, o especialista questiona a lógica de perseguir acessos em um ambiente cada vez mais dominado por buscas sem clique.

“Em um mundo de zero cliques, o tráfego é uma meta terrível”, escreveu ele.

A provocação ganhou ainda mais força ao citar dados da HubSpot: 60% dos profissionais de marketing apontam o aumento do tráfego como sua prioridade número um. Mas será que essa meta ainda faz sentido? Depende do modelo de negócio.

Como mostrou a Search Engine Journal, para publishers que monetizam com publicidade, tráfego não é vaidade. É receita direta.

E, ainda que esse modelo esteja sob pressão, os números de acesso continuam sendo um indicador essencial para quem depende da audiência para sobreviver.

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Tráfego é produto. Pelo menos para quem vive dele.

Quanto mais gente entra, mais impressões, mais cliques, mais receita

Em resposta direta à crítica, o próprio Fishkin reconheceu: para editores que trabalham com anúncios, o tráfego está altamente correlacionado à receita.

O raciocínio é simples: mais visitas significam mais impressões de anúncios e, portanto, mais oportunidades de monetização.

Casos como Vox Media, BuzzFeed ou mesmo Huffington Post ajudam a ilustrar isso.

Em cada um deles, o conteúdo é criado para atrair grandes volumes de público, e essa audiência é convertida em receita por meio de publicidade programática, conteúdo patrocinado ou afiliados.

Mas, como Fishkin também apontou, esse modelo está longe de ser infalível. Ele é vulnerável a bloqueadores de anúncios, a mudanças nas regras de privacidade e — claro — a atual dinâmica das SERPs, que priorizam respostas rápidas e mantêm o usuário dentro da própria plataforma.

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O desafio das buscas sem clique

O Google entrega a resposta antes mesmo do usuário visitar o seu site

Hoje, mais da metade das buscas termina sem clique, segundo SparkToro e SimilarWeb.

Isso porque, com snippets em destaque, painéis de conhecimento e outros recursos diretamente nas SERPs, o usuário não precisa mais visitar um site para obter a informação que busca.

Essa mudança impõe uma revisão de rota para quem depende do Google como principal canal de tráfego.

Como já analisamos na SEO Lab, a experiência nas páginas precisa ser pensada não apenas para atrair o clique, mas para justificar ele. Inclusive, discutimos isso com profundidade neste artigo sobre como escrever para SEO sem esquecer das pessoas, mostrando que escrever com intenção e foco na dúvida real do público é parte do novo SEO.

O volume pelo volume já não sustenta mais

Em muitos casos, a visita precisa deixar de ser uma estatística e virar uma ação

Nos modelos de e-commerce e geração de leads, o tráfego não é o fim — é o meio. E nem sempre um pico de visitas representa sucesso.

A visita só tem valor real quando resulta em alguma ação: clique, conversão, assinatura, lead qualificado.

Por isso, métricas como tempo de permanência, taxa de conversão, engajamento ou valor de vida do cliente estão ganhando mais peso nos painéis dos times de marketing e conteúdo.

Mas para que essas ações façam sentido, é preciso mais do que um conteúdo “otimizado”. A arquitetura do site precisa ajudar a guiar o usuário pelo caminho certo. Foi o que mostramos na prática neste artigo sobre como estruturar links internos com foco em performance de SEO. Porque SEO não é só sobre atrair — é sobre manter, converter e fazer voltar.

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Basear sua estratégia apenas no tráfego é arriscado — mesmo se você for publisher

Os algoritmos mudam. Os modelos de receita também.

Mesmo para veículos de mídia, depender exclusivamente do volume de visitas virou um jogo perigoso.

Atualizações de algoritmo podem reduzir drasticamente o alcance orgânico. Mudanças na privacidade podem comprometer a monetização.

E o comportamento do usuário mudou: hoje ele navega entre canais, consome conteúdo em formatos diversos e nem sempre vai até o fim da jornada.

Isso significa que a diversificação do modelo de receita deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade.

Assinaturas, eventos, produtos, programas de afiliados e parcerias têm ajudado a reduzir a dependência dos cliques.

Claro que, para isso funcionar, é preciso pensar também na base técnica. Estruturas claras, URLs bem definidas, hierarquias consistentes.

Como mostramos nesta matéria da SEO Lab, a URL ainda é um ponto-chave na comunicação com buscadores — e, mais do que isso, com o próprio usuário.

O tráfego ainda importa. Mas não sozinho.

Medir acessos sem contexto é como contar passos sem saber aonde está indo

No cenário atual, o tráfego precisa ser interpretado como parte de um conjunto. Ele ainda indica interesse, alcance e visibilidade.

Mas sozinho, ele não conta a história completa. O que importa mesmo é o que acontece depois que o usuário chega.

Por isso, uma estratégia de SEO mais madura inclui KPIs como:

  • Tráfego (por origem e intenção)
  • Conversão (de lead, de venda, de ação)
  • Engajamento (tempo, profundidade, cliques internos)
  • Receita por visitante
  • Retenção e rotatividade

Para isso, a integração entre ferramentas como GA4, CRMs e plataformas de dados se torna fundamental. Dashboards que cruzam dados de audiência com dados de receita entregam os melhores insights — e ajudam a separar o que é vaidade do que é valor real.

Essa inteligência de dados aplicada à performance é o que diferencia um site que só atrai visitas de um que gera resultado consistente.

E, como já mostramos neste conteúdo sobre canonicalização e SEO, até mesmo escolhas técnicas aparentemente simples podem fazer diferença no posicionamento — desde que estejam conectadas a uma estratégia sólida de negócio.