Liderança em tempos de IA: 5 lições para até 2035

Especialistas temem perda de autonomia moral e vínculos sociais em um mundo moldado por inteligência artificial — mas também apontam caminhos positivos com liderança humana

Liderança em tempos de IA: 5 lições para até 2035
Estudo prevê crise de identidade e saúde mental com avanço da IA até 2035. Créditos: Freepik.

A rápida evolução da inteligência artificial promete transformar profundamente a experiência humana.

Um estudo recente conduzido pelo Imagining the Digital Future Center, da Elon University, entrevistou quase 200 especialistas globais em tecnologia para imaginar como será a vida até 2035. As informações são da Forbes.

O resultado é um retrato que mescla otimismo e preocupação, com 61% dos participantes prevendo um impacto "profundo e significativo" ou até "fundamental e revolucionário" da IA.

A multiplicidade do eu e os impactos na saúde mental

No mundo descrito pelos especialistas, o ser humano deixa de ser uma entidade única para se tornar um conjunto de personas digitais: gêmeos virtuais, avatares, rastros biométricos e identidades pós-morte formariam o novo “eu de banco de dados”.

Essa fragmentação pode causar uma crise interna profunda.

Segundo o relatório, 45% dos entrevistados acreditam que essa transformação terá mais efeitos negativos do que positivos sobre a saúde mental.

Barry Chudakov, da Sertain Research, vai além: projeta um cenário em que a esquizofrenia digital se torna o novo normal, dividindo a consciência entre o real e o online.

O risco de perder a autonomia moral

Outro alerta vem da pesquisadora Evelyne Tauchnitz: sistemas algorítmicos que orientam nossas escolhas podem enfraquecer nossa agência moral.

Ao nos empurrar para decisões “otimizadas”, baseadas em dados, a IA pode nos afastar da liberdade de errar — algo essencial para o que nos torna humanos.

Apenas 16% dos especialistas preveem um equilíbrio entre impactos positivos e negativos na autonomia individual, enquanto 44% acreditam que a influência da IA será predominantemente negativa nesse aspecto.

Companheiros sintéticos e afetos programados

Relações humanas também estão no radar. A IA pode ocupar o lugar de parceiros amorosos, colegas de trabalho e até amigos.

Nell Watson, presidente da EURAIO, aponta que relacionamentos com bots podem parecer mais fáceis e previsíveis que os reais — o que pode torná-los preferíveis, embora mais superficiais.

A IA como parceira para a curiosidade

Nem tudo é distópico. Especialistas como David Weinberger (Harvard) e Dave Edwards (Artificiality Institute) enxergam na IA uma oportunidade de expandir o conhecimento humano.

A ideia é que esses sistemas atuem como "mentes para as nossas mentes", aliviando o fardo cognitivo e incentivando perguntas mais profundas.

Nesse ponto, 42% dos entrevistados se mostram otimistas: veem mais impactos positivos do que negativos da IA na curiosidade e aprendizado humano.

LEIA TAMBÉM: ChatGPT Plus de graça? OpenAI libera versão premium para estudantes

O perigo da mediocridade algorítmica

Mas há uma ressalva: a padronização promovida pela IA pode limitar a criatividade.

Para Alf Rehn, professor de Inovação, as inteligências artificiais correm o risco de se tornarem "motores da mediocridade", entregando sempre o aceitável, mas jamais o brilhante

. A solução, diz ele, pode estar em modelos que desafiem a lógica humana — o que ele chama de IA “octopode”.

LEIA TAMBÉM: GPT-4.5 engana humanos e passa no teste de Turing: o que isso significa para o futuro?

Liderança humana como antídoto

Mais do que técnica, a grande questão da próxima década é existencial: o que nos tornará humanos em meio a tanta automação?

Para Paul Saffo, a própria humanidade poderá ser questionada, com livros gerados por IA tentando definir "o que era o humano".

Ainda assim, há esperança. Lee Rainie, coautor do relatório, destaca que criatividade, curiosidade e tomada de decisão serão os pilares da liderança do futuro — atributos que nenhuma IA pode replicar totalmente.

Preservar esses valores pode ser o caminho para uma convivência saudável com as máquinas.

LEIA TAMBÉM: IA com propósito: empresas que focam no cliente são as que vão sobreviver no longo prazo