IA não derruba ranking: estudo da Ahrefs desmente boatos sobre penalização no Google
Pesquisa com 600 mil páginas mostra que o uso de ferramentas de inteligência artificial não afeta negativamente o desempenho nos resultados de busca. Mas o toque humano ainda faz diferença no topo

O medo de que usar inteligência artificial na criação de conteúdo pudesse prejudicar o ranqueamento no Google acaba de perder força.
Um novo estudo da Ahrefs analisou 600 mil URLs e concluiu que não há qualquer indício de que o buscador esteja penalizando ou favorecendo páginas com base na presença de texto gerado por IA.
A análise mergulha fundo na relação entre conteúdo gerado por inteligência artificial e performance nos mecanismos de busca.
A ideia era investigar uma suspeita recorrente entre profissionais de SEO e marketing de conteúdo: será que o uso de ferramentas generativas, como ChatGPT ou Gemini, pode derrubar sua posição nas SERPs?
Como o estudo foi feito
A metodologia usada pela Ahrefs foi robusta: o time selecionou 100 mil palavras-chave aleatórias no Keywords Explorer e extraiu as 20 URLs com melhor desempenho para cada termo.
Em seguida, cada uma das 600 mil páginas foi analisada com um detector de conteúdo de IA embutido na ferramenta Page Inspect do Site Explorer.
O resultado é um dos maiores levantamentos já realizados sobre o uso de IA em conteúdos digitais — e seus efeitos práticos nas posições do Google.
A presença da IA nas páginas mais bem ranqueadas
O estudo mostrou que o uso da inteligência artificial já está amplamente disseminado nas páginas que aparecem nos primeiros resultados:
- 4,6% das páginas analisadas foram classificadas como 100% geradas por IA
- 13,5% foram identificadas como escritas exclusivamente por humanos
- 81,9% apresentavam uma combinação de conteúdo humano e automatizado
Dentro desse grupo híbrido, o uso de IA foi distribuído assim:
- IA mínima (1–10%): 13,8%
- IA moderada (11–40%): 40%
- IA substancial (41–70%): 20,3%
- IA dominante (71–99%): 7,8%
Esse cenário reforça dados já apresentados no relatório State of AI in Content Marketing, também da Ahrefs, que mostrou que 87% dos profissionais de marketing já usam IA como suporte na criação de conteúdo.
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IA não influencia diretamente o ranking
Talvez o dado mais importante do estudo tenha sido este: a correlação entre o uso de IA em uma página e sua posição no Google foi de 0,011 — praticamente nula.

Isso indica que, na prática, o buscador não leva em conta a origem do conteúdo, mas sim a sua qualidade e utilidade.
Essa abordagem está alinhada com a política oficial do Google desde fevereiro de 2023, quando a empresa reforçou que seus algoritmos avaliam páginas com base em mérito e relevância, e não pela tecnologia usada na produção.
A discussão sobre como o Google avalia conteúdos com presença de IA tem sido constante, especialmente após a chegada das Visões Gerais de IA, que estão transformando a forma como os usuários interagem com a busca.
Já mostramos na SEO Lab que esse novo formato tem reduzido o volume de cliques em até 30% em determinadas consultas — o que coloca mais pressão sobre a produção de conteúdo útil e responsivo.
No topo, o fator humano ainda pesa
Apesar da ausência de correlação direta, o estudo detectou um padrão sutil nas páginas que ocupam o primeiro lugar nas SERPs: elas tendem a ter menos conteúdo gerado por IA.
Páginas com até 30% de texto automatizado apareceram com mais frequência no topo.
Já aquelas 100% automatizadas até figuraram entre os 20 primeiros resultados, mas quase nunca ficaram com a medalha de ouro.
Esse dado pode ser lido em conjunto com outro achado recente que discutimos aqui na SEO Lab: mesmo com a ascensão das Visões Gerais, elas já não ocupam mais o topo absoluto em todas as buscas, o que reacende o papel de conteúdo original, contextualizado e bem elaborado.
O elemento humano, nesse cenário, segue como diferencial competitivo.
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IA como ferramenta, não como ameaça
O principal recado para quem trabalha com conteúdo, SEO e marketing digital é direto: usar IA não traz penalização automática.
Mas confiar apenas na IA, sem curadoria humana, pode limitar o alcance de performance.
A estratégia mais segura continua sendo combinar eficiência tecnológica com critérios editoriais sólidos.
Como já analisamos em outra matéria da SEO Lab, mesmo os ajustes mais recentes nos algoritmos — como os Core Updates — são definidos com base em padrões de longo prazo, não em flutuações pontuais ou tendências passageiras.
Para o Ahrefs, o futuro da criação de conteúdo será híbrido.
“O Google provavelmente não se importa com a forma como você criou o conteúdo. Ele só se importa se os usuários o consideram útil”, afirmam os autores.
Eles fazem ainda uma analogia curiosa: da mesma forma que o aço moderno inevitavelmente carrega vestígios de radiação por conta da era nuclear, em breve, todo conteúdo na web poderá carregar algum grau de influência da IA — e tudo bem.
O que realmente importa para o Google
Diante de tantas mudanças no cenário da busca, é fácil cair na armadilha de achar que a IA é vilã.
Mas como já mostramos em outra análise recente, o Google tem rebatido especulações sobre uma possível queda no uso da busca por causa da IA.
O foco da empresa segue sendo a entrega de resultados úteis, e não o tipo de tecnologia envolvida na produção.
O recado final do estudo é claro: não é sobre quem escreve, mas sobre quem serve melhor ao usuário.
A inteligência artificial está aí para ficar, mas os melhores resultados ainda exigem pensamento crítico, intuição editorial e atenção às intenções de busca reais.
O medo de que usar inteligência artificial na criação de conteúdo pudesse prejudicar o ranqueamento no Google acaba de perder força.