IA na terapia? Chatbot surpreende em teste com pacientes reais

Ensaio clínico conduzido por pesquisadores de Dartmouth revela que pacientes com depressão, ansiedade e transtornos alimentares tiveram melhoras significativas ao utilizar o chatbot Therabot.

IA na terapia? Chatbot surpreende em teste com pacientes reais
Pesquisa envolveu 106 pessoas nos Estados Unidos, que utilizaram o Therabot através de um aplicativo de smartphone durante quatro semanas Créditos: Reprodução Therabot.

Em um avanço promissor para a aplicação da inteligência artificial na saúde mental, um estudo clínico conduzido por pesquisadores do Dartmouth College revelou que um chatbot terapêutico baseado em IA generativa, chamado Therabot, proporcionou melhoras clínicas significativas em pacientes diagnosticados com depressão, ansiedade generalizada e transtornos alimentares.

Os resultados foram publicados em 27 de março no NEJM AI.

A pesquisa envolveu 106 pessoas nos Estados Unidos, que utilizaram o Therabot através de um aplicativo de smartphone durante quatro semanas.

O chatbot utilizava prompts personalizados e respostas baseadas em boas práticas de psicoterapia e terapia cognitivo-comportamental (TCC), treinadas com dados desenvolvidos por especialistas da própria instituição.

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Melhora comparável à terapia tradicional

Os participantes diagnosticados com transtorno depressivo maior apresentaram uma redução média de 51% nos sintomas, enquanto aqueles com ansiedade generalizada relataram uma redução de 31%.

Pacientes com transtornos alimentares, que geralmente têm tratamento mais complexo, também apresentaram avanços: redução média de 19% nas preocupações com peso e imagem corporal, superando os resultados do grupo de controle.

Segundo Nicholas Jacobson, professor associado de psiquiatria e ciência de dados biomédicos em Dartmouth:

“As melhorias nos sintomas foram comparáveis ao que é relatado para terapia ambulatorial tradicional, sugerindo que essa abordagem com IA pode oferecer benefícios clinicamente significativos”.

O estudo destacou que o nível de confiança e comunicação relatado pelos participantes com o chatbot foi semelhante à relação terapêutica estabelecida com terapeutas humanos.

Isso demonstra o potencial da IA em oferecer suporte emocional real, mesmo que com limitações.

Relacionamento real com o chatbot

Durante o período de teste, os participantes usaram o Therabot por uma média de seis horas, o que equivale a cerca de oito sessões tradicionais de terapia.

Muitos iniciaram conversas espontaneamente e relataram sentir-se compreendidos pelo software, como se estivessem falando com um amigo.

“Não esperávamos que as pessoas tratassem o software quase como um amigo. Isso mostra que realmente estavam formando relacionamentos com o Therabot”, afirmou Jacobson.

Ele destaca que o conforto em conversar com a IA vinha do fato de que o bot não julgava.

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Disponível 24h e pronto para agir em emergências

O Therabot demonstrou um diferencial importante: a disponibilidade constante.

Isso permitiu que os participantes interagissem com o chatbot em momentos de maior angústia, como durante a madrugada.

Quando detectava conteúdo de alto risco, como ideiação suicida, o sistema alertava o usuário e oferecia opções de contato direto com serviços de emergência.

Michael Heinz, primeiro autor do estudo e professor assistente de psiquiatria, destacou que, apesar dos resultados positivos, a IA não está pronta para atuar de forma autônoma em contextos de saúde mental.

Ele alerta para os riscos de respostas inadequadas e enfatiza a necessidade de supervisão clínica constante.

Potencial para ampliar o acesso à saúde mental

Com um número insuficiente de profissionais de saúde mental para atender à demanda crescente — nos EUA, há em média um terapeuta para cada 1.600 pessoas com depressão ou ansiedade —, a IA surge como uma alternativa complementar viável.

“Vejo o potencial para terapias de pessoa para pessoa e baseadas em software trabalharem juntas”, disse Jacobson.

O Therabot, por exemplo, foi desenvolvido desde 2019 com apoio de psicólogos e psiquiatras, e mais de 90% de suas respostas foram consistentes com boas práticas terapêuticas em avaliações anteriores.

Essa discussão se conecta a temas que já abordamos aqui na SEO Lab, como o avanço da IA generativa do ChatGPT, que recentemente passou no teste de Turing e enganou humanos durante experimentos com o novo GPT-4.5.

A evolução da tecnologia está permitindo aplicações cada vez mais sofisticadas e personalizadas, inclusive na área de saúde.

IA com propósito: foco no usuário é o diferencial

Ainda que os benefícios sejam claros, os pesquisadores reforçam que é fundamental manter parâmetros de segurança, eficácia e supervisão especializada.

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A equipe que conduziu o estudo, por exemplo, estava preparada para intervir em casos de emergência.

Quando o centro das decisões é o bem-estar do usuário, a tecnologia pode, de fato, gerar impactos positivos duradouros.

O ensaio com o Therabot é um marco para o uso responsável da IA na saúde mental.

Ele mostra que, com os cuidados certos, a IA pode ampliar o acesso à terapia e transformar a experiência de pacientes que hoje estão desassistidos.