CEO da Cloudflare diz que IA está quebrando o motor econômico da web

Matthew Prince aponta colapso no modelo de troca de valor entre Google e criadores de conteúdo

CEO da Cloudflare diz que IA está quebrando o motor econômico da web
Para Matthew Prince, o impacto da IA na web é mais profundo do que parece, e ameaça a própria sustentabilidade do conteúdo online. Créditos: Unsplash.

Durante anos, a lógica era clara: produtores de conteúdo criavam páginas, o Google indexava e, em troca, mandava tráfego.

Era uma troca aparentemente justa. Mas, segundo Matthew Prince, CEO da Cloudflare, essa relação entrou em colapso, e a inteligência artificial é a principal culpada.

Em entrevista ao Conselho de Relações Exteriores dos EUA, Prince foi direto:

“A IA vai mudar fundamentalmente o modelo de negócios da web”.

O executivo descreve o que vê como um ponto de inflexão para o ecossistema digital.

Ele diz que a base econômica da internet, sustentada principalmente pela busca, está ruindo diante do avanço da inteligência artificial e das chamadas respostas diretas, que eliminam o clique e esvaziam a função dos criadores de conteúdo.

A matemática já não fecha para os criadores

Prince aponta um dado revelador: há uma década, a cada duas páginas que o Google rastreava de um site, uma visita era gerada.

Hoje, são necessárias seis páginas para obter um único clique. Esse descompasso, segundo ele, é reflexo da explosão das chamadas pesquisas sem cliques, quando o Google responde diretamente na SERP, sem redirecionar o usuário para o conteúdo original.

Essa crítica já foi amplamente discutida aqui na SEO Lab, especialmente após a implementação das Visões Gerais de IA.

Uma análise independente apontou que essas respostas inteligentes podem reduzir os cliques em até 34,5%, algo que está longe de ser irrelevante para quem vive de audiência.

IA não só copia: ela multiplica

E se a situação com o Google preocupa, o cenário com as big techs de IA é ainda mais drástico.

Prince destaca que, enquanto o Google entrega um clique a cada seis páginas rastreadas, a OpenAI gera 250 respostas para cada clique enviado.

A Anthropic? Segundo ele, a proporção é absurda: 6.000 para 1.

A crítica é clara: a IA usa conteúdo humano como base, mas raramente gera valor de volta para os criadores.

E isso mina a motivação para criar.

Essa discussão ganhou corpo nas últimas semanas, com o próprio Google tentando amenizar as críticas.

A empresa vem defendendo que as Visões Gerais de IA elevam a qualidade dos cliques, mesmo com uma redução no volume.

Uma tentativa, talvez, de conter a narrativa de que a busca perdeu força com o avanço da IA, algo que o próprio Google nega publicamente, como já analisamos por aqui.

Um modelo de negócio insustentável?

O alerta de Prince é mais do que um desabafo: é uma constatação do risco sistêmico.

Segundo ele, se os criadores não forem remunerados ou reconhecidos de alguma forma, simplesmente deixarão de produzir conteúdo original.

“E então, cada vez mais, as respostas que recebemos não nos levam à fonte, mas a versões diluídas e derivadas do conteúdo original.”

Ele cita que até Sam Altman, CEO da OpenAI, reconhece esse problema.

Mas enquanto só alguns pagam por conteúdo, os demais continuam extraindo de graça, o que cria um desequilíbrio insustentável.

A Cloudflare, que fornece infraestrutura para 20% a 30% da web e 80% das empresas de IA, está no olho desse furacão.

Prince afirma que a companhia está tentando entender como ajudar a reequilibrar esse cenário.

Leia também: IA acessível: como a queda de preços impacta quem vive de SEO, tráfego e conteúdo online

O hype da IA: genial ou fogo de palha?

Apesar de tudo, Prince não adota um tom apocalíptico. Ele acredita no potencial da IA, mas também no exagero.

“Diria que 99% do dinheiro gasto nesses projetos está sendo queimado. Mas 1% será incrivelmente valioso”, afirmou.

A metáfora que usou diz muito: estamos todos acendendo notas de 100 dólares tentando achar o único dólar que realmente vale a pena.

Enquanto isso, o mercado segue dividido.

O Google comemora o aumento no uso da busca após as Visões Gerais de IA, mas analistas alertam para a queda no engajamento dos usuários — como também mostramos em outra análise recente da SEO Lab.

O que vem agora?

O modelo de negócios da internet foi erguido com base numa troca: conteúdo em troca de tráfego.

Se essa dinâmica não for reinventada, corremos o risco de ter uma web cheia de respostas vazias e poucas fontes originais confiáveis.

Isso inclusive é algo que vem alertado pelo Google. A empresa tem penalizado as publicações e conteúdos vazios e que não agregam um valor real para os seus leitores, tendo sido gerados por IA.

Talvez seja o momento de discutir o que vem depois da busca. Ou pelo menos, o que virá se ela continuar assim.

Veja também: IA Generativa e EEAT: Como produzir conteúdo com autoridade e confiabilidade para o Google