Apple cogita trocar o Google por buscas com IA no Safari: o que muda para quem produz conteúdo?

Eddy Cue, executivo da Apple, admite que usuários estão migrando para ferramentas de inteligência artificial. A mudança pode ameaçar o acordo bilionário com o Google e redesenhar a disputa no mercado de buscas

Apple cogita trocar o Google por buscas com IA no Safari: o que muda para quem produz conteúdo?
Redesenho do Safari com IA pode abalar acordo bilionário com o Google e mudar o jogo para o SEO. Créditos: Pexels.

A Apple está considerando integrar buscadores baseados em inteligência artificial, como o ChatGPT, ao Safari, sinalizando uma mudança importante na forma como a empresa enxerga o futuro das pesquisas online.

Isso acontece justamente num momento em que seu acordo com o Google, estimado em 20 bilhões de dólares anuais, está na mira das autoridades reguladoras dos Estados Unidos.

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A revelação veio por meio de Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple, durante depoimento no processo antitruste movido contra o Google. Segundo Cue, o uso da busca tradicional no Safari caiu pela primeira vez, um sinal claro de que os usuários estão começando a preferir as respostas rápidas e personalizadas das IAs.

A informação foi divulgada originalmente pela Search Engine Journal e joga luz sobre uma possível reconfiguração no mercado de buscas, hoje dominado pelo Google.

Cue foi direto: "A IA é uma nova mudança tecnológica e está criando oportunidades para novos participantes."

O novo cenário: IA no lugar do Google?

Na prática, a Apple estuda colocar serviços como ChatGPT, Perplexity AI e Anthropic na lista de buscadores disponíveis no Safari, ainda que, por ora, nenhum deles deva assumir a posição padrão.

A empresa já teria, inclusive, mantido conversas com a Perplexity.

Segundo Cue, mesmo que esses buscadores ainda precisem melhorar seus índices, a experiência geral já é superior em muitos aspectos.

"Há dinheiro suficiente, grandes players suficientes, e não vejo como isso não pode acontecer", afirmou o executivo, sugerindo que a mudança é inevitável.

Essa aposta na IA conversa diretamente com o que já discutimos aqui na SEO Lab, quando mostramos como uma extensão do ChatGPT no Chrome está transformando a forma como as pessoas buscam informações, substituindo etapas tradicionais por respostas instantâneas e mais contextuais.

Pressão antitruste e a cláusula dos 20 bilhões

O timing da fala de Cue não poderia ser mais delicado. O Google enfrenta uma batalha judicial que pode redefinir suas práticas de negócios.

Em agosto de 2024, o juiz Amit Mehta declarou que a empresa violou leis antitruste ao garantir exclusividade em acordos como o que tem com a Apple.

Desde então, o Departamento de Justiça dos EUA vem propondo uma série de medidas que incluem até a venda do navegador Chrome e o fim do pagamento por posição padrão nos navegadores.

O Google, por sua vez, rebateu chamando a proposta de “agenda intervencionista radical”.

Eddy Cue, por outro lado, admitiu perder o sono com a ideia de perder a fatia de receita gerada pelo acordo com o Google.

Afinal, só em 2022, a gigante das buscas pagou US$ 20 bilhões para manter seu buscador como padrão no Safari. A pressão está em todos os lados.

Plataformas também querem sua fatia nas buscas

Se a Apple está estudando integrar IAs ao Safari, outras empresas já começaram a se mover.

O Reddit, por exemplo, passou a integrar o Gemini, a IA do Google, ao seu sistema de buscas internas, apostando em conteúdo gerado por usuários para oferecer respostas mais contextualizadas.

A gente falou sobre essa estratégia aqui na SEO Lab, mostrando como ela pode transformar a forma como as pessoas pesquisam dentro das próprias plataformas sociais.

Esse tipo de iniciativa fortalece uma tendência: a busca não está mais restrita aos mecanismos tradicionais.

Ferramentas de IA, extensões no navegador e plataformas com grandes comunidades estão entrando no jogo com propostas diferentes — e, muitas vezes, mais eficientes para o usuário.

Google nega crise, mas os sinais se acumulam

Apesar da movimentação da Apple e da explosão de novas ferramentas baseadas em IA, o Google segue negando qualquer crise.

Em outra matéria publicada recentemente pela SEO Lab, mostramos como a empresa rebateu publicamente a ideia de que estaria perdendo usuários por causa da IA.

Mesmo assim, o discurso já mudou: agora, o Google também corre para reforçar suas ferramentas com inteligência artificial, como forma de manter sua relevância.

O que isso muda para quem trabalha com SEO e conteúdo?

Se a Apple realmente mudar o Safari para priorizar IAs nas buscas, o impacto pode ser profundo.

Para quem trabalha com SEO, isso significa adaptar estratégias para novas lógicas de exibição de conteúdo.

Já para quem produz, será necessário entender como essas IAs indexam, sintetizam e priorizam a informação.

Essa possível mudança de rota mostra que o setor precisa se manter em constante adaptação.

O cenário é volátil, e quem trabalha com conteúdo e marketing digital deve acompanhar de perto cada nova integração, cada mudança de padrão e, principalmente, cada decisão vinda de gigantes como Apple e Google.

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